quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Boas festas?



"Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte", Freud.

Num fórum psicanalítico sobre as festas de fim de ano surgiu a questão: por que muitas pessoas se sentem mal nas festas natalinas e de ano novo? Reclamam ou tentam escamotear estes eventos com objeções a um comportamento um tanto eufemista da realidade?

Bem, para início de conversa, o termo eufemista da realidade significa que ela, a própria realidade dura, cruel e implacável, seria substituída por uma inconsciência coletiva de suavidade, nos moldes junguianos.

O que acontece, ou pode acontecer, como no meu caso em particular, é a pessoa perder um ente querido às vésperas das "boas" festas. A data, por um longo período, pode trazer à tona um sentimento de luto.

Talvez eu esteja num período transitório. Já gostei mais do Natal. Também o odiei por muitos anos. Nesta época perdi meu pai num grave acidente, contudo, e com tempo, percebi que não é justo responsabilizar uma data pelo meu luto. Hoje me sinto menos triste, mas com uma pontinha melancólica.

Os desafetos são os mais verborrágicos. São os que apontam a perda de valores, o espetáculo de consumo e que o natal teria abandonado seu verdadeiro espírito. Giorgio Agamben, em seu livro Profanações, citando Walter Benjamin, afirma que a primeira experiência que a criança tem do mundo não é a de que os adultos são mais fortes, mas sua incapacidade de magia.

O processo de luto, na ótica freudiana, por sua vez, se realiza através do teste de realidade, que ao evidenciar reiteradamente que o objeto não mais existe, exige que a libido se desprenda do objeto perdido. Entretanto, sublinha que esta exigência não é fácil de ser cumprida. As pessoas tendem a se agarrar insistentemente a seus investimentos libidinosos e não abrem mão de suas ligações mesmo quando outro objeto se apresenta a elas.

As festas de fim de ano produzem muitos efeitos, menos a indiferença. A data tem seus adeptos e seus desafetos. Os dois têm algo em comum, o sentimento despertando durante o período de festas. Bom ou mau, o que vale é sentir.

Quanto aos que gostam não são de falar muito, eles agem. Montam árvores, enchem a cidade de luzes e esperam ansiosos por seus presentes.

Há um conjunto de expectativas quanto às comemorações de fim de ano. Troca de presentes, socialização e outros. Por mais que racionalizamos um mal estar, o que vale é o que sentimos.
Dar algo sem querer nada em troca não tem preço, e faz bem.

É um exemplo típico de Fato Social, conforme Durkheim descreve. O Natal é algo que  envolve todos, do exterior ao interior do indivíduo. Não dá pra escapar! Quando não podemos fugir ou nos sentimos mal quando tentamos ser diferentes da maioria.


Na verdade é preciso olhar para frente e buscarmos no simbolismo da mudança perspectivas para um recomeço esperançoso e cheio de metas. Conforme uma frase natalina, "Natal é o nascimento de Cristo. Ano Novo é o nascimento de uma nova esperança. Que o seu Natal seja brilhante de alegria, iluminado de amor. Feliz Natal e o seu Ano Novo cheio de esperança".

* Texto parcialmente publicado em 25 de dezembro de 2012.