"Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para
aceitar a morte", Freud.
Num fórum psicanalítico sobre as festas de fim de ano
surgiu a questão: por que muitas pessoas se sentem mal nas festas natalinas e
de ano novo? Reclamam ou tentam escamotear estes eventos com objeções a um
comportamento um tanto eufemista da realidade?
Bem, para início de conversa, o termo eufemista da
realidade significa que ela, a própria realidade dura, cruel e implacável,
seria substituída por uma inconsciência coletiva de suavidade, nos moldes
junguianos.
O que acontece, ou pode acontecer, como no meu caso em
particular, é a pessoa perder um ente querido às vésperas das "boas"
festas. A data, por um longo período, pode trazer à tona um sentimento de luto.
Talvez eu esteja num período transitório. Já gostei mais
do Natal. Também o odiei por muitos anos. Nesta época perdi meu pai num grave
acidente, contudo, e com tempo, percebi que não é justo responsabilizar uma
data pelo meu luto. Hoje me sinto menos triste, mas com uma pontinha
melancólica.
Os desafetos são os mais verborrágicos. São os que
apontam a perda de valores, o espetáculo de consumo e que o natal teria
abandonado seu verdadeiro espírito. Giorgio Agamben, em seu livro Profanações,
citando Walter Benjamin, afirma que a primeira experiência que a criança tem do
mundo não é a de que os adultos são mais fortes, mas sua incapacidade de magia.
O processo de luto, na ótica freudiana, por sua vez, se
realiza através do teste de realidade, que ao evidenciar reiteradamente que o
objeto não mais existe, exige que a libido se desprenda do objeto perdido.
Entretanto, sublinha que esta exigência não é fácil de ser cumprida. As pessoas
tendem a se agarrar insistentemente a seus investimentos libidinosos e não
abrem mão de suas ligações mesmo quando outro objeto se apresenta a elas.
As festas de fim de ano produzem muitos efeitos, menos a
indiferença. A data tem seus adeptos e seus desafetos. Os dois têm algo em
comum, o sentimento despertando durante o período de festas. Bom ou mau, o que
vale é sentir.
Quanto aos que gostam não são de falar muito, eles agem.
Montam árvores, enchem a cidade de luzes e esperam ansiosos por seus presentes.
Há um conjunto de expectativas quanto às comemorações de
fim de ano. Troca de presentes, socialização e outros. Por mais que
racionalizamos um mal estar, o que vale é o que sentimos.
Dar algo sem querer nada em troca não tem preço, e faz
bem.
É um exemplo típico de Fato Social, conforme Durkheim
descreve. O Natal é algo que envolve
todos, do exterior ao interior do indivíduo. Não dá pra escapar! Quando não
podemos fugir ou nos sentimos mal quando tentamos ser diferentes da maioria.
Na verdade é preciso olhar para frente e buscarmos no
simbolismo da mudança perspectivas para um recomeço esperançoso e cheio de
metas. Conforme uma frase natalina, "Natal é o nascimento de Cristo. Ano
Novo é o nascimento de uma nova esperança. Que o seu Natal seja brilhante de
alegria, iluminado de amor. Feliz Natal e o seu Ano Novo cheio de
esperança".
* Texto parcialmente publicado em 25 de dezembro de 2012.