terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O mar se abriu e a literatura ficou



"Uma vez reconhecida a estrutura da linguagem no inconsciente, que tipo de sujeito podemos conceber-lhe?" (LACAN, 1998, p.814).

Sem sombra de dúvida, o curso de Letras (na época Literatura) foi um Moisés em minha vida. Posso dizer, sem medo de afundar no mar vermelho da tagarelice, que é um divisor de águas para qualquer um. Todos deveriam fazer Letras!

Lembro, no início da vida acadêmica, das dicas preciosas de leituras, autores e professores inesquecíveis. Meu encontro com as ocupações de hoje começou lá atrás e o pontapé inicial da partida para o Jornalismo, a Psicanálise e, por fim, a Filosofia foi numa “folha seca” com golaço de cabeça do time de Letras.

Tinha literatura até no nome da faculdade. Era “Filosofia, Ciências e, claro como o sol raiou, Letras”. Éramos as ovelhas negras da instituição. As ciências eram exatas, as sociais de esquerda e Letras? Uma incógnita. Podemos ser o que quisermos. Eu escolhi olhar para esquerda, no entanto, tanta gente, de centro, que respeito é semanticamente coerente. Vai entender... Freud explica, mas após muita leitura de Shakespeare, Flaubert, Goethe e Dostoievski.

Os três anos que passei no curso, antes de partir para outros rumos, possibilitaram-me compreender um pouco sobre análise literária, produção de textos e pesquisa, por isso reconheço que sem esta base talvez não solidificasse a construção da minha vida profissional. Hoje, posso optar pela carreira acadêmica, revisão, tradução, jornalismo e outras inúmeras possibilidades.  

Para quem tinha “Uma Vida em Segredo”, cercado de ignorância e senso comum, deixei de ser um “Grande Mentecapto” (hoje sou um mentecapto menor). Já fui “Carteiro (de e-mails) e o Poeta (das crônicas)”. Viajei o “Mundo de Sofia” e com “A Sedução da Palavra” fiquei um “Homem Nu”, mas, só desta vez, nem “Toda Nudez Será Castigada”.  Licença aos autores Autran Dourado, Fernando Sabino, Antonio Skármeta, Jostein Gaarder, Affonso Romano de Sant'Anna e Nelson Rodrigues. A maioria... Conheci em Letras.

Como o psicanalista Jacques Lacan faz uma apropriação e subversão da Linguística, de Ferdinand de Saussure, convido os meus camaradas analistas, ou não, a beber desta fonte riquíssima de técnica, humanidade, leitura e imaginação.  


Este texto é dedicado aos professores Beatriz, Fábio, Adelmo, Isis, Rosangela, Carla, Delceny, Tatagiba e Sônia. Aos meus colegas de turma, aos alunos de Letras que admiro e aos que irei admirar quando se enveredarem pelos caminhos das Língua Portuguesa!