domingo, 16 de agosto de 2015

Retroceder? Nunca!



"Pensar é difícil, é por isso que a maioria das pessoas prefere julgar", C. G. Jung.

A agressividade no debate público estampa o quadro adoecido de uma parcela individualista da sociedade brasileira extremamente violenta e excludente. Eis aqui meu aconselhamento terapêutico. Tenho inúmeras dúvidas quanto à abordagem mais adequada neste caso de histeria coletiva, mas a única certeza que tenho é que começo olhando para trás, pois sei, sem sombra de dúvida, que não quero voltar para lá.  

O enaltecimento a representantes legisladores falastrões, extremistas religiosos e o pouquíssimo, ou nenhum, conhecimento da história de luta pela democracia no país coloca em xeque essa sociedade hipócrita que tenta tudo (até o ridículo) conter os avanços dos direitos da grande parcela, até então, esquecida pelas lentes de quem não queria ver a exclusão debaixo do próprio nariz.

Alguns preferem fantasias a enfrentar a dura e cruel realidade. É mais conveniente chorar pelo sofrimento falso de um personagem da teledramaturgia do que por um abandonado pedinte no centro da cidade.

É fácil lutar contra a corrupção sonegando imposto. Rezar para que Deus castigue, com requinte de crueldade, todos que são a favor do governo. Santa hipocrisia.

O Brasil precisa de reformas, sem dúvida. Continuar com acesso a educação e saúde para todos. Combater as discriminações, incentivar as ações culturais, de meio ambiente. Precisa sim melhorar. E para isso acontecer temos que cobrar, mas reivindicar soluções coletivas, não individualistas como quer a “torcida da seleção brasileira”.

Como no manifesto dos artistas: “o Brasil precisa urgentemente de uma reforma política. Mas precisa mudar avançando e não recuando”.  É inegável que, com o desenvolvimento histórico do ideal democrático e os avanços sociais, a noção de cidadania, nos últimos anos, ganhou caráter inclusivo, incorporando assalariados (proletários), mulheres, negros, LGBT e também dependentes químicos e outras minorias no debate político nacional.

Seria uma falta de respeito com a história dos movimentos sociais e com meus companheiros de luta (e sofrimento) se hoje estivesse de acordo com a desajustada falta de noção democrática de uma parcela da população despolitizada deste país.

Esta parcela quer ser confundida (indo às ruas para passeio dominical) com quem fazia o coro ter sentido nas manifestações das “Diretas Já!” e Fora Collor”. Quer ser confundida com o “operário de Marx” mesmo amaldiçoando o “comunismo” (sem ao menos saber o que quer dizer comunismo).  

Esta população desorientada política e mentalmente, como na produção e acúmulo de capital para o burguês (mais-valia), goza sem limites. Produz, inconscientemente, um “mais-gozar”.  

A crítica raivosa e exagerada se enquadra no sintoma do sujeito que foi privado do uso regular dos prazeres em detrimento da satisfação inconsciente dos excessos. Sem responsabilizar-se culpa os outros pelos males ou pelo que acha que é ruim para si mesmo. Os outros não importam. São apenas culpados. E o deslocamento (mecanismo de defesa caracterizado por transferir emoções ou fantasias do objeto a quem estavam originalmente associadas para o substituto) desta culpa cai no colo do governo e seus verdadeiros aliados.

Enfim, quando nos dermos conta de que somos responsáveis por 90% dos nossos problemas, atrasos e retrocessos, talvez este impasse “clínico” ou “cínico”, se preferirem, chegue a algum lugar. De preferência um pouco mais à frente.