“O sonho é a satisfação de que o desejo se realize”, Freud.
Final de ano é a mesmíssima coisa. Ruas abarrotadas. Mal dá
para andar nas calçadas. Os comerciantes comemoram as vendas natalinas como se
cada cliente possuísse a fortuna da realeza. E a crise? Existe realmente algo
de podre no reino da Dinamarca, mas cá estamos nós comprando.
Não estragaremos a versão brasileira do Natal e ano novo com
legendas em economês. Afinal de contas, as faturas só serão debitadas no ano
que vem e tem gente, a maioria, que paga no calor do momento.
O espírito do Natal não é só consumista. Há uma simbologia
mística nisso tudo. Os cristãos comemoram o nascimento de Cristo e, pelo andar
do trenó, o velhinho está mais generoso nos últimos anos. Vestido a caráter. De
vermelho.
Vou dizer o que acho.
Indignado com os corruptos todos nós estamos, mas manter a esperança de que
tudo se resolva no ano novo, como num passe de mágica, sem participação? Não
muda nada. Temos que ajudar o destino. As caixinhas dos reis magos não abrem
sozinhas.
Digo isso porque nós merecemos tudo que aconteceu de ruim e
bom durante o ano. Sem, é claro, reduzir o ano num balanço medíocre. Reproduzo aqui o trecho da entrevista com o
psicanalista Christian Dunker:
"(...) há um erro em olhar para as nossas
vidas como se fôssemos apenas máquinas produtivas, nos resumindo ao que
ganhamos ou produzimos, como se nossa aplicação aos estudos fosse um
"investimento", como se nossos sonhos fossem "metas" e
nossos avanços no casamento fossem medidas por "construções". Uma
vida que pode ser medida desse jeito é uma muito pobre”.
Vida “rica” significa que temos ouro (fruto do trabalho),
incenso (para espiritualidade e fraternidade) e mirra (para curar as feridas),
mas sem balaços... Mas com movimento. Abrir os presentes simbólicos para uma
vida melhor, não esperar acontecer. A nossa tarefa, hoje, é desatar os nós de
nós mesmos. E que venham os pacotes de esperança, medo, alegrias, tristezas,
mas cheios de fitas coloridas!