sexta-feira, 15 de abril de 2016

A sala “Rubem Braga” no divã



“A Psicanálise, talvez à revelia de seu inventor, entra dignamente no campo da crítica contemporânea, oferecendo às obras um modo de pensar que, como a arte, busca transcender a familiaridade das formas culturais”, João A. Frayze-Pereira


Desde sua concepção, a psicanálise estabelece com a cultura uma relação estreita. Os relatos clínicos, por exemplo, como os cinco casos que Sigmund Freud descreve, em suas obras completas, são considerados preciosidades para a transmissão da eficácia prática, entretanto, a psicanálise também se apropria de uma ferramenta importante para isso: a ficção.

O que eu quero dizer com isso? No limite entre a literatura e jornalismo existe a crônica. E a relação da Psicanálise com este gênero é tão estreita quanto o papel e a caneta do escritor.

A realidade e complexidade de um caso clínico jamais caberiam num relato textual sem que para isso conexões literárias não fossem utilizadas como ferramentas para a transmissão escrita.

O caso é uma crônica e, também, uma questão complexa. Como diz Luiz Carlos Nogueira, no artigo “A pesquisa em psicanálise”, é necessário percorrer os caminhos da mitologia, filosofia clássica e moderna, literatura, assim como pelas contribuições das ciências exatas e, neste caso, humanas, como a Antropologia, a Linguística e História, além, é claro, pela própria Psicanálise para construir algo precioso para o estudo.

E é de arte que estamos falando. O tempo todo. Diferente da imaginação de quem nunca foi ao analista, o espaço reservado para os lançamentos de livros na VI Bienal Rubem Braga será decorada por livros de autores capixabas.  Se, para alguns, isso nada tem a ver com a Psicanálise, para outros as coisas são claras como as asas da borboleta amarela. Freud, em seu espaço de atendimento, exibia em suas estantes obras de Shakespeare, Flaubert, Goethe, Dostoievski e Balzac.

Por isso, nesta edição, a sala “Rubem Braga” será ampliada e ocupará local de destaque no evento, que começa no dia 31 de maio e vai até 05 de junho. Além de autores, vários já inscritos nas datas disponíveis, haverá também bate-papo, palestras, leituras dramáticas...

Temos confirmados lançamentos de obras patrocinadas pela Lei Rubem Braga de Cachoeiro e de editoras locais. Trata-se de um espaço concorrido, por garantir boa visibilidade aos participantes, por isso, como “analistas”, formaremos uma comissão, com membros da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), que ficará responsável pela seleção das obras e curadoria da Sala Rubem Braga.   

Nestes 10 anos de Bienal, as cinco últimas edições foram marcadas pela novidade. E esta não será diferente. Como a psicanálise é inaugurada da originalidade. É uma disciplina indisciplinada, com alguns autores com personalidade utilizaram o conhecimento literário para subversão de conceitos.

E como dizem que a crônica é um gênero marginal. Aqui isso não faz a menor diferença, porque é da revolução que se faz arte... E psicanálise!