“A Psicanálise, talvez à revelia de seu inventor, entra dignamente no campo da crítica contemporânea, oferecendo às obras um modo de pensar que, como a arte, busca transcender a familiaridade das formas culturais”, João A. Frayze-Pereira
Desde sua concepção, a psicanálise estabelece com a
cultura uma relação estreita. Os relatos clínicos, por exemplo, como os cinco
casos que Sigmund Freud descreve, em suas obras completas, são considerados
preciosidades para a transmissão da eficácia prática, entretanto, a psicanálise
também se apropria de uma ferramenta importante para isso: a ficção.
O que eu quero dizer com isso? No limite entre a
literatura e jornalismo existe a crônica. E a relação da Psicanálise com este
gênero é tão estreita quanto o papel e a caneta do escritor.
A realidade e complexidade de um caso clínico jamais
caberiam num relato textual sem que para isso conexões literárias não fossem
utilizadas como ferramentas para a transmissão escrita.
O caso é uma crônica e, também, uma questão complexa.
Como diz Luiz Carlos Nogueira, no artigo “A pesquisa em psicanálise”, é
necessário percorrer os caminhos da mitologia, filosofia clássica e moderna,
literatura, assim como pelas contribuições das ciências exatas e, neste caso,
humanas, como a Antropologia, a Linguística e História, além, é claro, pela
própria Psicanálise para construir algo precioso para o estudo.
E é de arte que estamos falando. O tempo todo. Diferente
da imaginação de quem nunca foi ao analista, o espaço reservado para os
lançamentos de livros na VI Bienal Rubem Braga será decorada por livros de
autores capixabas. Se, para alguns, isso
nada tem a ver com a Psicanálise, para outros as coisas são claras como as asas
da borboleta amarela. Freud, em seu espaço de atendimento, exibia em suas
estantes obras de Shakespeare, Flaubert, Goethe, Dostoievski e Balzac.
Por isso, nesta edição, a sala “Rubem Braga” será
ampliada e ocupará local de destaque no evento, que começa no dia 31 de maio e
vai até 05 de junho. Além de autores, vários já inscritos nas datas
disponíveis, haverá também bate-papo, palestras, leituras dramáticas...
Temos confirmados lançamentos de obras patrocinadas pela
Lei Rubem Braga de Cachoeiro e de editoras locais. Trata-se de um espaço
concorrido, por garantir boa visibilidade aos participantes, por isso, como
“analistas”, formaremos uma comissão, com membros da Academia Cachoeirense de
Letras (ACL), que ficará responsável pela seleção das obras e curadoria da Sala
Rubem Braga.
Nestes 10 anos de Bienal, as cinco últimas edições foram
marcadas pela novidade. E esta não será diferente. Como a psicanálise é
inaugurada da originalidade. É uma disciplina indisciplinada, com alguns
autores com personalidade utilizaram o conhecimento literário para subversão de
conceitos.
E como dizem que a crônica é um gênero marginal. Aqui
isso não faz a menor diferença, porque é da revolução que se faz arte... E
psicanálise!