O corpo é um instrumento que nos permite expressar a nossa subjetividade
No II Festival de Poesia Falada, evento realizado no
encerramento da VI Bienal Rubem Braga, que aconteceu no teatro, em Cachoeiro,
uma atuação chamou a atenção do respeitável público.
O primeiro lugar do festival ficou com a poesia “Doca”,
de autoria de Anderson Bardot. Mas foi seu desempenho que mereceu o terceiro
lugar. O nu de Bartdot despiu o proselitismo provinciano cachoeirense. Dentro e
fora do teatro municipal.
Dizem que Cachoeiro de Itapemirim é a cidade da crônica,
berço de artistas, mas, esquecemos que na Capital Secreta do Mundo não há
cortinas de fumaça que consigam engasgar as gargantas profundas que cabem
línguas enormes. Como serpentes espalham, em “textículos”, seus venenos pelas
redes sociais. Deprimente.
O corpo é um instrumento que nos permite expressar a
nossa subjetividade. A imagem corporal pode transmitir mensagem, dependendo da
relação, de pudor ou não, que estabelecemos com ele. Se o que vejo no outro me
incomoda, será não há algo errado comigo?
Em Psicanálise dizemos que existem duas pulsões básicas.
A vida (com o objetivo de preservação e de ligação afetiva aos outros) e de a
morte (busca o desligamento das coisas e das pessoas). Embora pareça
incompreensível num primeiro momento, estas duas pulsões (de vida e de morte)
são geradoras de angústia. Bom, o que isso tem a ver com o nu artístico? Já
explico:
Ao ser incapaz de conter o excesso de angústia o
psiquismo transborda para o corpo, sendo que o sujeito sacrifica uma parte de
seu corpo no intuito de proteger-se da dor e descarregar os afetos que o
ameaçam. Submete-se a um sofrimento (despir) para livra-se de outro sofrimento
(sintoma) numa criação artística que a Psicanálise denomina de sublimação.
O espetáculo sublime não pode parar porque meia dúzia de
desavisados não suportou ver em cena uma pequena demonstração de coragem frente
à angústia de se mostrar ou não aos expectadores. Será que foi tão ruim?
Faturar dois prêmios em uma paulada só deve mexer com o ego de muita gente
histérica.
Enquanto a Bienal Rubem Braga celebra 10 anos de sucesso,
em sua sexta edição e o II Festival de Poesia Falada presenteia a professora e
escritora Ariette Moulin, a performance de Anderson Bardot não passou despercebida
pela crítica.
Aplausos, de pé, para a Bienal, para o Festival e para a
coragem do homem nu!