terça-feira, 7 de junho de 2016

Revolução: uma re-visão



“As ocasiões fazem as revoluções”, Machado de Assis.

Não se faz revolução sozinho. Tampouco com discrepâncias ideológicas. Contudo, numa posição peculiar está o analista diante do caótico mundo líquido (solúvel). Há uma antiga piada sobre psicanalistas e seu modo fecundo e ao mesmo tempo de rompimento diante de uma possível associação:

“Para fundar uma nova escola de psicanálise basta um psicanalista. Dois são suficientes para tornar tal empreendimento um acontecimento internacional. Mas se você tiver três juntos é uma questão de tempo até isso se transformar em uma ruptura inconciliável, motivada pelos mais fundamentais antagonismos epistemológicos, éticos e metapsicológicos”.

No texto “Alma Revolucionária”, publicado no Blog da Boitempo, o psicanalista Christian Dunker, entre outras coisas, revela que “ao contrário de nossos colegas liberais, que querem diminuir o tamanho do mundo em pequenos blocos de propriedades rentáveis, os revolucionários estão interessados em expandir o tamanho da alma comum e sua expressão coletiva.

Vivemos em pleno mal-estar na pós-modernidade. O combustível para isso é a velocidade das informações “ocas” que em milésimos de segundos surgem nas redes, grupos e páginas da internet. Este cenário nos faz refletir sobre o que e para quem damos a cara à tapa nos movimentos estudantis, sindicais e associativos.

Brincar com uma democracia recente e complexa como a nossa é perigoso. Por mais que as informações naveguem à velocidade da luz, as pessoas não entendem a situação real em que o Brasil se encontra. É difícil um prognóstico, mas a famosa frase de Karl Marx, "Primeiro como tragédia, depois como farsa", nos faz refletir certos posicionamentos extremistas como possíveis salvadores da pátria. A história nos relata isso. Depois da crise de 1929, a ascensão dos fascismos. Estaremos preparados para o que virá depois? Jamais. Geralmente, após um golpe, há traumas irreparáveis.


O livro "Facticidade e validade", Habermas propõe um projeto socialista não mais como um esboço de uma forma de vida concreta, mas sim como um conjunto de condições necessárias para formas de vida emancipadas, sobre os quais os próprios participantes têm que se entender preliminarmente. Isso se as polarizações permitirem o diálogo. 

Sobre a polarização, Dunker diz no texto, brilhantemente, que não se trata de céticos versus crentes, nem de muçulmanos contra cristãos. Para o analista, a alma revolucionária pode assumir várias formas, ora como crítica e também como ato por meio de instituições.  

As relações de dominação e servidão na atualidade emergem em um sintoma. Este sintoma subverte a aparência ideológica de igualdade e liberdade. Repensar o papel das relações sociais é fundamental. A luta de classes está aí camuflada nessas relações que são como água e óleo, por mais que se tente misturar... Democraticamente.

Quando se discute a reformulação da esquerda devíamos ter em conta dois fenômenos: nosso cansaço com a representação e nosso complexo de inautenticidade. O complexo de inautenticidade ataca o coração da alma revolucionária. Ele pode ser diagnosticado por meio do que Slavoj Zizek chamou de “fantasia ideológica”.

Finalmente, o psicanalista revela que o truque fundamental da fantasia é nos fazer acreditar que nós a conhecemos, que nós a dominamos, que nós podemos usá-la em nosso favor, quando, em geral, é ela que está nos usando.